27 de jul. de 2011

Amores póstumos


Há uma lembrança que não sai de mim.
Um homem de pé, olhando pra um túmulo todo enfeitado de flores. O cemitério todo é enfeitado com essas mesmas flores. A imagem é de quase um jardim com aquele homem de pé, estático, reflexivo, totalmente alheio ao mundo dos que vivem.
O que será que ele estava pensando? Que dores ele sentia? Quem é ele? Quem jaz ali? Jamais saberei, infelizmente!
Isso me fez refletir sobre os meus mortos, não exatamente os que se foram da terra, mas  os que se foram da minha vida, do meu coração.
Os meus amores se foram e me deixaram aqui no meu jardim, estático e reflexivo.
Foram poucos, posso afirmar, e menos ainda os que me deixaram realmente assim.
Tenho lembrado de uma frase da Clarice Lispector em que ela diz ‘ todo amor é eterno, se acabou, é porque não era amor’. E eu discordo disso totalmente.
O amor em todas as suas representações precisa ser alimentado, precisa de cuidado, como uma plantinha, precisa de sombra, água fresca, atenção,tudo isso fará o amor muito mais forte. E a ausência desses cuidados, torna esse amor mais fraco, engavetado, esquecido, por todas as suas impossibilidades de se tornar eterno. Ninguém segue amando ‘para sempre’ alguém que não lhe retribuiu. Amar sozinho é uma prática impossível e é assim que ele se acaba, desculpe-me grandiosa Clarice, mas é o que eu penso.
Nunca fui de lamentar perdas, nunca fui de chorar meus mortos. Acho que tudo na vida acaba no fim, o passado se fosse bom se chamaria presente. E se o presente se foi, é porque tinha de ser. Não tenho pretensão de pousar de ‘super nada’ definitivamente não é isso. Quando amo, fico frágil,fragilizada no pior sentido da palavra. Eu amo intensamente e quero meu amor comigo, quero dividir tudo com ele, quero oferecer o céu em provas desse amor, sacrificar-me as vias de sangrar se me for solicitado, sem neuras, sem culpa, amo no sentido mais amplo da palavra. Mando torpedinho de bom dia, faço versos, invento moda. Fico boba sem pudor algum e eu penso que tem de ser assim mesmo. Porque morno, médio, mais ou menos, não me faz sentir frio no estomago nem produz lembranças que atravessarão a vida inteira comigo. 
Se não for intenso pra mim não serve, se não foi intenso, não era pra mim.
Por isso se em algum momento eu percebo que não há reciprocidade, imbuída da mesma força que me faz amar intensamente, eu retrocedo, recolho todos os meus cacos e me vou. Tenho amor suficiente em mim pra saber que ser amado por mim é único, porque eu sou única nos meus defeitos e eu sou única principalmente nas minhas qualidades, e sei que no mundo há milhares de pessoas sonhando serem amadas como eu sou capaz de amar. 
Por que me engavetar, me deixar empoeirar se posso viver e conquistar?
Eu lembro dos meus mortos sim e lembro porque eles morreram pra mim e isso me faz querer estar junto dos que vivem, me faz olhar pra frente e ver todas as infinitas possibilidades do que posso criar

Um comentário:

  1. Tatinha...Vc não muda, sempre filosofando. Saudades de nós!

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