2 de jan. de 2014

Sobre o esconderijo de Anne Frank e o nosso também

Há muitos anos eu vinha planejando Ler ‘ O diário de Anne Frank’, nem sei por que protelei tanto.
Ė um livro de leitura super fácil e os exemplares são de encadernações simples, ou seja, não são caros.
Mas fui adiando, e assim aguardei uns bons 10 anos para lê-lo, até finalmente a semana passada.

                                           
_Dizem que tudo nessa vida tem um momento para acontecer, talvez tenha sido isso.

Anne Frank foi uma pré-adolescente judia, filha de banqueiros. Vivia na Holanda, tinha vida abastada, recebia educação esmerada e usufruía o melhor que uma família bem estruturada poderia proporcionar.
Na segunda grande guerra iniciada por Hitler, em razão de sua caçada aos judeus. Anne e sua família precisou ficar em um esconderijo construído dentro de uma fábrica de propriedade de seu pai e ali permaneceram durante quase três anos. Tempo no qual Anne viveu conflitos pessoais e familiares comuns a uma jovenzinha e os transcreveu de forma brilhante e minuciosa em seu diário, que foi postumamente encontrado e publicado.
Uma historia real e dolorida, que narra a liberdade roubada, vidas aprisionadas, sonhos de liberdade. Anne e quase toda a família com exceção apenas do pai Otto Frank, acabou morrendo no campo de concentraçao semanas antes de Hitler se matar e a guerra acabar. Fica a sensação do sofrimento em vão, da dor pelo nada, dos cadáveres adiados por três anos e isso é muito triste.
É impossível não comparar o ‘cárcere’ de Anne ao cárcere diário de muitos de nós. Esse ao qual nós nos impomos quase todos os dias, muita das vezes antes mesmo de nos levantarmos da cama.
Quantas vezes ao percebermos um perigo iminente, nos escondemos? Passamos dias, meses e até anos dentro de nosso sótão pessoal nos esforçando pra não fazer barulho, pra não ser notado, com medo de nosso nazista pessoal, de nossa Gestapo mental, do campo de concentração e torturas que submetemos a nós mesmos por medo de viver.
Sabemos,  quanto mais discreto formos, mais tempo sobreviveremos, e quem sabe um dia estaremos totalmente a ‘salvo’? A pergunta é:  _A salvo de quem?
Quase sempre também há um amigo invisível como Anne tinha seu diário que ela chamava tão carinhosamente de Kity.
Não importa ‘quem’ ou ‘o que’.  Um animal, um programa de TV, o álcool, a música, o telefone, a net, o not. Tanto faz!
Assim como tão fantasticamente figurou Platão em seu mito da Caverna, a caverna pode ter muitas formas, a escolha é sua. Por que no final é só isso, uma questão de escolha. O que realmente é relevante para nós  é o fato de que ela te esconde do mundo e esconde o mundo de você.
Anne escrevia em seu diário porque lhe faltava amigos reais e vida para encher o seu dia. Olhava o mundo de seu esconderijo e sonhava em andar lá fora e olhá-lo de frente, sonhava, porque não tinha outra opção, ao contrário de nós que na maioria do tempo opta por sonhar por ser mais seguro.
Anne tinha um perigo físico e metafísico. Hitler, a Gestapo, o medo da Câmara de Gás nos campos de concentração. Mas, e nós? O que nos segura dentro do nosso esconderijo?
Porque nos apegar tanto a uma vida imaginária quando há 200 milhões de possibilidades de outras vidas para conhecermos?
As dúvidas eternas, as eternas indagações que talvez jamais sejam respondidas:
_Onde eu errei?
_Como é que se faz o certo?
_Estranho sou eu ou o mundo?
Nossos inimigos são nossos medos, angustias, o terror do amanhã que muitas das vezes leva muito tempo pra chegar.
O amanhã de Anne não chegou porque o inimigo dela era real, o nosso não é.
O nosso ‘inimigo’ mora dentro de nós e tem a importância que nós dermos a ele.

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A segunda guerra mundial terminou.
A nossa guerra interior permanece pelo tempo que vivermos.
Ficar escondido não vai adiantar NADA!

3 comentários:

  1. :D ameeeei, escreves muito bem flor

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  2. Muito bom. Forte para uma judia como eu que teve o sobrenome de sua família arrancado.
    Nós nunca iremos esquecer!

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    1. Muito obrigada Simone, por ter lido e dispensado um momento pra comentar aqui.
      Vou republicar esse texto semana que vem, num blog onde estou escrevendo com uns amigos.
      Espero que esteja tudo bem com você. Dia desses se desejar, apareça.
      beijos.

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