1 de jun. de 2015

Uma carta que não será entregue

Hoje refletindo sobre tudo e nada ao mesmo tempo, lembrei de você.
Não que eu tenha me lembrado  somente agora. Mais de um ano depois, não se passou um dia ainda sem que eu acorde e você me venha a cabeça como o primeiro pensamento do dia.
Comecei a olhar o meu quarto buscando objetos que tenham vindo de você, relíquias de um amor que morreu tão cedo. A primeira coisa que me veio a mente foi o livro com frases do Pequeno Principe que você não chegou a me entregar. Lembro de você me mostrar cada página por Whatsapp naquele nosso eterno namoro a distância.
Na estante está o livro que você me deu no nosso primeiro encontro. Ao abri-lo, na primeira página esta sua tímida dedicatória, quatro ou cinco linhas de uma letra miudinha, como você.
No meio do livro eu guardo uma foto nossa, a única impressa. É uma das muitas que fizemos na quinta da boa vista, na sua última visita. Um dia e noite maravilhosos e então você se foi, definitivamente.
O marcador de texto em origami também continua aqui. Amarelado, mas firme. Ele me faz lembrar do nosso passeio pelo bairro da liberdade. Um dos melhores dias da minha vida.
Percebo que minhas  lembranças estão enfraquecendo. Antes eu me lembrava de cada detalhe, agora somente de alguns.

_Eu, comendo comidas japonesas enquanto você numa mistura de divertimento e nostalgia me observava.

_Nós duas, sentadas na saída  do metrô julgando divertidamente os 'looks' ousadissimos dos que saiam de lá em direção à rua.

_Um casal de velhos chineses  tomando uma sopa estranha. Mas nem é pela sopa que eu me lembro deles e sim pela companhia silenciosa que um fazia ao outro. Eu desejei naquela hora ficar velhinha ao seu lado e nunca mais me separar de você.

_A gente rindo muito, falando sobre o chá de calcinhas da minha amiga que aconteceria na proxima semana aqui no RJ e que você infelizmente não poderia ir.

_Nós duas, abraçadas à porta do ônibus pranteando a despedida.

O colar prateado com um grande cristal que você me deu, também guardei...ainda o uso e quando o faço, lembro de você delicada abotoando ele no meu pescoço.

Todos os emails e fotos suas eu deletei num momento de fúria e expurgação. Foi necessário esse meu ato naquele momento, mas agora que o ódio se foi eu adoraria te-los comigo ainda. Mas já foi, tudo bem.
O que eu gostaria mesmo de ter, é  uma carta escrita do seu próprio punho. Parece uma coisa antiga e sem importância isso, mas eu penso que quando um amor se interrompe e a vida segue, as lembranças se vão devagar até virar um fato 'quase' qualquer, uma passagem da nossa vida somente.
Como dizia Caio Fernando Abreu 'Tudo se perde no filtro da memória' e eu fico imensamente triste por isso.
Ficam como provas de que tudo aquilo foi real, as nossas reliquias.
Fotos e  principalmente  as palavras escritas.
As fotos tem menos valor pois são meras imagens que perdem contexto quando as lembranças se vão. Mas as palavras não, essas não se perdem. São como um documento sentimental e nos darão conta no futuro de um forma quase exata, o amor que mesmo não tendo sido perfeito e durado pouco, realmente existiu.
Mas, Você não me escreveu uma carta. As minhas lembranças estão indo embora e um dia você será totalmente esquecida.
Eu também serei por você, não te escrevi cartas também. 
Talvez nosso amor tenha nascido com esse destino mesmo. O esquecimento.
Me resta a frágil lembrança, ao menos por enquanto.
Enquanto ele durou, eu fui muito feliz.

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